Como funciona o Tesouro IPCA?

Tesouro IPCA +

O Tesouro IPCA é um título essencial do Tesouro Direto para o investidor de longo prazo. O que é? Como funciona? Como investir nele? Vamos conversar sobre isso tudo e muito mais neste artigo.

O que é o Tesouro IPCA+ ?

IPCA é o índice básico utilizado para medir a inflação no nosso País. O responsável por medir e divulgar este índice é o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ao mesmo tempo que este dado percentual indica o aumento do custo de vida, ele serve de base para remuneração de alguns investimentos.

E este é precisamente o caso dos títulos IPCA +. Perceba que eu uso um sinal de “+” após o nome do índice, pois este título possui uma parte pós-fixada e outra pré-fixada. A ideia é que o rendimento do título será a taxa de inflação, que varia ano a ano, mais um percentual fixo, que será o rendimento real do título.

Este tipo de investimento é muito interessante, porque ele protege o seu dinheiro do aumento dos preços. Você não sabe quanto será a inflação nos próximos anos, mas você garante que seu dinheiro aplicado terá reposição da inflação e, além disso, um rendimento real somado a ela. Tudo isso combinado em um investimento super seguro e conservador.

Agora que já vimos do que se trata, vamos detalhar melhor como o título funciona.

Como funciona o Tesouro IPCA?

O Tesouro IPCA + é oferecido com diferentes vencimentos. Vamos pegar um dos títulos IPCA + disponíveis no site do Tesouro nesta data para estudá-lo.

TESOURO IPCA + 2045:

  • rentabilidade anual de IPCA + 3,87%;
  • investimento mínimo de R$ 41,69;
  • preço unitário de 1.389,79;
  • vencimento para 15/05/2045.

Rentabilidade

Vamos começar pela rentabilidade: IPCA + 3,87% ao ano. Isso significa que se no próximo ano a inflação for de 4%, o rendimento total será de 4 + 3,87 = 7,87%. Veja que seu dinheiro fica com um rendimento garantido de 3,87% acima da inflação, aquilo que chamamos de rendimento real.

Sugestão de leitura: O que é rendimento real?

Investimento mínimo

O investimento mínimo é extremamente acessível: a partir de R$ 41,69 você já consegue investir. Este valor é uma fração do valor de R$ 1.389,79, que é o preço do título inteiro.

Vencimento

O vencimento é 15/05/2045, o que significa que esta é a data em que você terá seus investimentos de volta, com todos os juros combinados. Veja que, desde que você carregue seus investimentos até o vencimento, você possui garantia de receber as rentabilidades pactuadas. Se você resgatar antes do combinado, aí você fica sujeito ao preço que está sendo pago no dia, em virtude da marcação a mercado.

Marcação a mercado

Marcação a mercado, de modo bem simples, é o preço que o mercado está disposto a pagar pelo seu título hoje. Este preço varia em virtude da taxa de juros e é por isso que no meio do caminho o seu título pode ter rendimentos diferentes do esperado.

Suponha que você investiu hoje R$ 1.000 no Tesouro IPCA + 2045. Daqui um ano, a inflação acumulada ficou na casa dos 3%. O rendimento seria então de 3 + 3,87, totalizando 6,87%. Entretanto, no ano que vem você percebe que seu título rendeu mais que isso, digamos, 9% por exemplo.

Este é um efeito típico da marcação a mercado. O mercado pode estar disposto a pagar mais pelo seu título porque é vantajoso adquirir um título IPCA + 3,87%.

Exemplo da vida real

Uma vez eu comprei um título que pagava IPCA + 5,3% ou algo próximo disso. Verifiquei um ano e meio depois que o título tinha rendido incríveis 35%. Na época, os títulos disponíveis para compra no tesouro não pagavam IPCA + 5,3% e sim IPCA mais um percentual fixo bem menor.

Perceba que um título pagando 5,3% acima do IPCA era um título interessantíssimo naquele contexto, por isso o mercado se dispunha a oferecer um excelente preço pelo meu título, se eu resolvesse resgatar ele naquele momento.

O inverso também é verdadeiro, entretanto.

Você pode contratar um título IPCA + 3,87% e verificar que daqui um ano, mesmo com uma inflação de 3%, os seus rendimentos foram de 4%, por exemplo: muito abaixo do que você contratou. Os efeitos da marcação a mercado podem ser tanto positivos quanto negativos no curto e médio prazo.

Assim, fica a dica: Tesouro IPCA + não é para especulação e sim para longo prazo. Você não investe em IPCA esperando retornos extraordinários para daqui a um ano, mas sim para ter rendimento real acima da inflação, ao longo do tempo.

Desde que você carregue o título até o vencimento, você receberá as rentabilidades pactuadas. A marcação a mercado faz com que no meio do caminho qualquer coisa possa acontecer com o preço do título. Levando ele até o final, entretanto, você tem a certeza de ganhar todo o rendimento combinado no começo do investimento.

Tesouro IPCA + com ou sem pagamento de juros semestrais?

Além de se diferenciar pelo prazo de vencimento, há uma outra divisão no site do Tesouro Direto que pode chamar a sua atenção. Para exemplificar, veja estes dois exemplos disponíveis:

  • Tesouro IPCA + 2035;
  • Tesouro IPCA + 2040 com juros semestrais.

Além do prazo, qual a diferença entre eles?

Sem juros semestrais

O Tesouro IPCA + 2035 é exatamente o exemplo do qual tratamos até agora: você investe e lá em 2035 resgata o valor total investido, mais os juros combinados. Sem mistério.

Com juros semestrais

Já o título que vem acrescido da expressão “com juros semestrais” carrega uma diferença: ele antecipa o pagamento de parte dos juros semestralmente, nos meses de janeiro e julho. Isso significa que o investidor que aporta nele vai receber um pouco dos juros a cada seis meses, em vez de receber tudo no final.

Outro termo que se usa frequentemente neste caso é a expressão “com pagamento de cupom” ou “com cupom”, que designa o pagamento de juros antecipados.

Se por um lado você tem recebimentos periódicos neste caso, por outro lado este dinheiro renderia mais se ficasse investido até o final. Pense que você está crescendo seu investimento a juros compostos. Toda vez que você tira um pedacinho destes juros e põe no seu bolso, você tira um pedacinho do bolo que está lá rendendo. Além disso, você antecipa o juros, mas também antecipa o pagamento de imposto.

O pagamento de juros semestrais pode ser mais interessante para uma pessoa que já possui patrimônio formado e quer deixar o dinheiro investido, rendendo acima da inflação, mas já usufruindo de uma renda passiva periódica.

No processo de formação de patrimônio, entretanto, pode ser mais interessante apostar no Tesouro IPCA sem pagamento de juros semestrais, pois seu montante final será bem maior e você adiará o pagamento de imposto para o vencimento do título, daqui a muitos anos.

“Mas há CDBs que são bem mais vantajosos que o Tesouro IPCA”

Muito cuidado com este tipo de afirmação. Tendemos a olhar para rentabilidade bruta e desconsiderar outros fatores. Vamos a exemplos.

Hoje eu tenho o Tesouro IPCA + 2045 pagando inflação + 3,87%. Por outro lado, vamos supor um CDB de um banco com dificuldades de captação que consegue me remunerar 12% ao ano, com vencimento em oito anos. Se estimarmos uma inflação entre 3 e 4%, tendemos a pensar que o CDB é mais vantajoso: maior rendimento em menor prazo. Só que há várias coisas a analisar aí.

O banco tem dificuldades de captação

Logo, é um investimento de maior risco. Por mais que os CDBs tenham garantia do FGC até 250.000 reais por CPF e por instituição financeira, você possui um risco aí.

Remuneração de 12% ao ano

Embora essa remuneração possa parecer vantajosa agora, você não tem como prever a taxa de juros da economia em um prazo de oito anos. Com Selic em torno 2%, o CDB oferece uma remuneração ótima, mas e se a Selic subir nos próximos anos? Essa remuneração ficará cada vez menos atrativa frente a investimentos mais seguros.

Prazo menor

O prazo menor exigido pelo CDB parece um ponto a favor, mas se você comparar com o longo prazo de investimento, essa vantagem cai por terra. Investindo em um IPCA longo, você só paga imposto de renda no vencimento.

Por outro lado, daqui oito anos você resgata o CDB e paga o imposto, para investir em outro CDB, resgatar e pagar imposto novamente, e por aí vai. Se você partir para um horizonte de décadas investindo em IPCA e deixando o dinheiro lá versus investir em CDBs, o IPCA leva vantagem por ter uma maior eficiência fiscal. E tudo isso atrelado a um investimento conservador, sem correr riscos desnecessários.

Resgate antecipado

No caso do IPCA, você fica sujeito à marcação a mercado, mas pode se desfazer do seu título a qualquer momento, vendendo ele pelo preço que o mercado está disposto a pagar.

Já no caso do CDB, vale ver as condições com cuidado, pois você pode ter grandes perdas se precisar se desfazer de um CDB antecipadamente. Uma vez investi 600 reais em um CDB para oito anos e, alguns meses depois, verifiquei o valor para resgate antecipado: 240 REAIS.

Exemplo que só reforça: dinheiro para longo prazo é dinheiro para não mexer.

Em qual título investir?

Na data em que escrevo este artigo, temos títulos Tesouro IPCA + com vencimento em 2026, 2035 e 2045; no caso dos títulos com pagamento de juros semestrais, temos vencimento para 2030, 2040 e 2055. Você consegue consultar a lista atualizada de títulos, com os vencimentos e rendimentos, no site do Tesouro, neste link.

Já mostrei que você deve dar preferência aos títulos sem pagamento de juros semestrais se o objetivo é acúmulo de patrimônio. E quanto aos prazos, qual escolher? Simples, escolha o prazo mais longo, pois ele permitirá um melhor efeito de juros compostos, bem como melhor eficiência fiscal. Afinal, você só paga imposto no resgate, então quanto mais longe melhor.

Se você tem planos específicos para o seu dinheiro, aí sim você pode pensar em títulos com o prazo mais próximo. Suponhamos que você quer comprar um carro daqui cinco anos. Juntar dinheiro no IPCA + 2026 pode ser uma boa, neste caso, porque preserva o poder de compra do seu dinheiro, garante rendimentos acima da inflação e resgata o dinheiro todo em 2026 para adquirir o seu carro.

Uma casa daqui a quinze anos? O IPCA 2035 pode servir bem a este propósito. Acumular dinheiro para aposentadoria? Que tal fazer o bolo crescer no IPCA 2045?

É dessa forma que você escolhe.

Via de regra, vá no prazo mais longo: o acúmulo será maior. Para projetos específicos, você pode aplicar nos títulos com prazo mais próximo.

Como aplicar?

Para aplicar no Tesouro IPCA é bem simples. O passo a passo básico é o seguinte:

  1. abra conta em uma corretora de valores;
  2. no site ou app da sua corretora, localize a área “Tesouro Direto”;
  3. veja os títulos disponíveis e escolha aquele de sua preferência;
  4. aplique o dinheiro que você separou para investir nele e pronto.

A liquidação ocorrerá em D+2. Isso significa que, se você comprar hoje, daqui dois dias o título vai aparecer na custódia da sua corretora de valores.

O valor mínimo para investimento nos títulos IPCA hoje está em torno de 40 reais. O investimento é sempre uma fração do título inteiro, então na hora de investir a corretora vai arredondar pra você.

Suponhamos que o valor mínimo é 41,50 reais e você tem 50 reais pra investir e clica em “comprar” no app da sua corretora. Ela vai sinalizar que, com os seus 50 reais, é possível comprar 0,03 do título a um valor de 41,50 reais. Ou seja, os valores sempre serão quebrados, para corresponder à fração exata que está sendo adquirida.

Comprar um pouco por mês ou um valor maior de uma vez?

Você pode comprar um pouco por mês, investir um valor maior de uma vez só ou usar ambas as estratégias. Desde que você respeite o valor mínimo, todo mês você pode comprar, se assim o desejar. Para cada compra que você fizer, vai valer a remuneração combinada na data.

Suponha que neste mês em comprei 1.000 reais pagando IPCA + 3% e no mês que vem eu compro 500 reais pagando IPCA +3,5%. O resultado disso é que os 1.000 reais vão render 3% acima da inflação e os 500 reais aplicados posteriormente, 3,5% acima da inflação. As taxas de juros se alteram constantemente, então na prática é exatamente isso que você irá vivenciar.

Gostou do conteúdo? Ficou com dúvidas? Deixa aqui embaixo nos comentários, vai ser um prazer poder conversar com você.

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