Hora de falar um pouquinho sobre os dividendos, uma forma de remuneração para acionistas de grandes empresas. Vamos conversar um pouco sobre isso.
Dividendos
Os dividendos são os lucros distribuídos por uma empresa aos seus acionistas. Para ilustrar, vamos utilizar o Itaú como exemplo. Se você detém ações do Itaú, por exemplo, nada mais justo do que você participar dos lucros da companhia, já que, enquanto acionista, você é um sócio minoritário do Itaú.
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Ao adquirir uma ação do Itaú, você investiu nele, você comprou uma pequena parte do banco. Assim, quando o banco apura o lucro do exercício, ele distribui aos acionistas uma parte destes lucros. A essa grana que é distribuída aos acionistas damos o nome de dividendos.
O exemplo ilustrativo é do Itaú, mas a lógica é idêntica para qualquer empresa listada na Bolsa de Valores. Uma vez que você possua ações você é sócio e nesta condição você tem direito a participar dos lucros da empresa.
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Basta ter ações para ganhar dividendos?
Algumas pessoas operam na Bolsa de Valores de forma especulativa, ou seja, em curto prazo. Essas pessoas, normalmente chamada de traders, compram e vendem ações com o objetivo de realizar lucros mais rápidos, muitas vezes operando com uma frequência bastante alta.
Os dividendos servem melhor ao investidor de longo prazo e não ao de curto prazo. O fato de você ter uma ação por um ou dois dias não garante o recebimento de dividendos. As empresas definem as datas em que os detentores de ações terão direito a receber os dividendos. Há dois termos relacionados às datas que são interessantes: data-com e data-ex.
Data-com
A data-com é a data que manda: se você tiver ações naquele dia, você terá direito a receber os dividendos anunciados pela empresa. Suponhamos que a Petrobrás vai pagar dividendos aos seus acionistas e ela anuncia que a data-com é 25/02/2021. Isso significa que todos que possuírem ações da Petrobrás no dia 25 receberão dividendos.
Se o acionista vendeu as ações da Petrobrás no dia 24, ele não terá direito a receber dividendos. De forma similar, se ele comprou ações da Petrobrás depois do dia 25, ele também não terá direito ao recebimento de proventos.
E daí vem o segundo termo, a data-ex.
Data-ex
A data-ex é simplesmente a data que não dá mais o direito ao recebimento de dividendos, ou seja, um dia após a data-com. Voltando ao exemplo anterior, todos que possuíam ações da Petrobrás até o dia 25 (data-com) receberiam dividendos. A partir do dia 26 (data-ex), quem comprasse ações não mais teria direito àqueles dividendos anunciados. Diz-se que o dia 26 é a data-ex ou data ex-dividendos.
Basta lembrar que “ex” normalmente não é boa coisa. A data-ex é quando você perdeu a chance de ganhar aqueles dividendos anunciados.
Você deve estar se perguntando: “qual a necessidade de criar uma data só pra dizer que você não tem mais direito aos dividendos? A data-com não seria suficiente?”. Existe um motivo pra isso: a data-ex não foi criada apenas para dizer que você se ferrou, mas sim para efetuar o desconto do valor dos dividendos no preço da ação.
Desconto dos dividendos
Suponha que você tem ações do Bradesco no valor de 30 reais e ele anuncia o pagamento de 1 real de dividendos por ação para aqueles que tiverem ações dele no dia 25. Por um acaso você possui ações dele neste dia e ganha o direito de receber os dividendos.
Vamos supor que no dia 25 as ações do Bradesco fechem a um preço de 30,50 reais. Você perceberia que, no dia seguinte, elas abririam a um valor de 29,50 reais, um real a menos que o dia seguinte. Na data em que a ação fica ex-dividendos, o preço pago a título de dividendo é diminuído do preço da ação.
Por que isso acontece?
O valor da ação reflete, entre outras coisas, a lucratividade da empresa. Assim, o valor de cada ação embute os lucros daquele empreendimento. Se a companhia teve um bom lucro no ano e decidiu distribuir parte dele aos acionistas, perceba bem o que aconteceu:
- a empresa poderia reinvestir estes lucros para crescer mais, mas preferiu distribuí-los aos acionistas;
- distribuindo os lucros, o valor da empresa diminui, pois ela não reinvestiu o dinheiro, mas sim distribuiu este montante a terceiros;
- se o valor da ação reflete os lucros da empresa e parte destes lucros foi distribuída aos acionistas, nada mais justo que diminuir o valor da ação para que tal valor reflita a realidade.
Então a empresa não deveria distribuir lucros!
Tendemos a chegar a esse tipo de conclusão, mas não é bem assim. Entenda que algumas empresas estão muito bem consolidadas no mercado. Tomemos como exemplo a Ambev, gigante brasileira do setor de bebidas. A empresa chegou num nível de maturidade no qual não há muito mais o que crescer, já que ela detém uma fatia enorme do mercado. Neste caso, reinvestimentos constantes podem não ser tão necessários, de modo que a empresa pode remunerar seus acionistas por meio de dividendos maiores.
Por outro lado, uma empresa que está em crescimento pode preferir reinvestir a maior parte dos seus lucros e distribuir poucos dividendos, estratégia que também faz muito sentido, já que ela ainda precisa evoluir muito para ter uma boa fatia do mercado. Tanto uma quanto outra estratégia podem trazer bom retorno ao acionista, que ganha na forma de dividendos ou com o crescimento da empresa.
Reinvestimento gera crescimento de capital no longo prazo
Para nós, pequenos investidores, o importante é reinvestir os dividendos. Ao recebê-los, basta juntá-los ao nosso próximo aporte e investi-los, para gerar um efeito de juros compostos. No futuro, quando os dividendos chegarem a um valor maior, podemos usá-los como renda passiva tranquilamente. No início, entretanto, reinvesti-los gerará um maior acúmulo de dinheiro no longo prazo.
Sugestão de leitura: Juros Compostos e Renda Passiva.
Perceba que os dividendos são pagos periodicamente. A frequência varia de acordo com a empresa, mas a ideia básica é: se você mantém ações de boas empresas, você estará na posse delas quando for anunciado pagamento de dividendos. Uma forma de renda passiva com o poder de aumentar ainda mais a sua capacidade de investir.
Lembrando que as empresas usadas neste artigo são meramente exemplos ilustrativos. Não leia os exemplos como recomendações de compra, mas apenas como o que eles representam: ilustrações para melhor entendimento dos conceitos apresentados.