Conhece o Tesouro Prefixado? Já falamos aqui que o Tesouro Direto está entre os investimentos mais seguros do País. Você empresta dinheiro para o Governo, que paga uma remuneração (juros) em troca disso. O Tesouro Prefixado é uma das modalidades de investimento no Tesouro Direto, de modo que vamos falar dele neste artigo.
Sugestão de leitura: O que é o Tesouro Direto?
Tesouro Prefixado
O antigo nome do Tesouro Pré é Letra do Tesouro Nacional ou LTN. O nome antigo aparece por aí, de forma que se você vê-lo, já sabe do que se trata.
O Tesouro Prefixado já se entrega no nome: pré vem de antes, de modo que a taxa já é determinada no momento em que você investe no título. Desse modo, na hora do investimento você já sabe exatamente quanto vai ganhar, desde que deixe o dinheiro investido até a data de vencimento do título. Voltaremos nesse ponto.
Rentabilidade
Assim, consultando o site do Tesouro na data em que eu escrevo este artigo, o Título Prefixado 2026 está com uma rentabilidade anual de 8,83%. Isso significa que, se eu investir 1.000 reais neste título hoje, eu sei que ele vai render 8,83% ao ano. Sem mistério.
Isso faz desse título um dos mais simples de entender. Você investe e sabe exatamente quanto ele vai render. É diferente do Tesouro Selic, que rende conforme a Selic varia, e do Tesouro IPCA, que também tem seu rendimento variando ao longo do tempo de acordo com a inflação.
Sugestões de leitura: Tesouro Selic: o que é e como funciona? e Como funciona o Tesouro IPCA?
Assim, no Tesouro Pré você sabe quanto você vai ganhar, desde que você deixe o dinheiro investido até o vencimento.
Investimento mínimo
O investimento mínimo na data em que escrevo é extremamente acessível. Com pouco mais de 30 reais você já pode investir no Tesouro Pré, sendo este um dos títulos mais acessíveis do Tesouro Direto.
Vejamos o Tesouro Prefixado 2026, por exemplo. O preço unitário dele hoje é de 671,27. Este é o preço de uma unidade do título. Entretanto, você pode comprar frações dele, de modo que o mínimo é R$ 33,56, uma fração deste valor. Bem acessível.
Vencimento
A questão de deixar o dinheiro investido até o vencimento é uma condição para obter a rentabilidade acordada. Isso porque, caso você precise do dinheiro antes, você pode ter uma surpresa agradável ou desagradável. Tudo por culpa da marcação a mercado.
A marcação a mercado determina quanto o mercado paga pelo seu título caso você queira resgatá-lo de forma antecipada. Assim, se eu invisto em um Tesouro Pré com vencimento em 2026, mas resolvo resgatar esse dinheiro em 2024, eu vou receber o que o título está valendo na data de resgate.
E este valor pode ser bem diferente da rentabilidade esperada.
Marcação a mercado e mudança da Taxa Selic
A Taxa Selic tem influência direta no valor do meu título prefixado. Quando a Selic sobe, o valor do meu título cai. Quando a Selic cai, por outro lado, o valor do meu título sobe. Vamos pensar no motivo desse movimento ocorrer.
Suponha que a Selic está a 2% e eu investi em um Tesouro Prefixado com rentabilidade de 7%. Suponha que a Selic comece a subir e subir… e chegue a 7%. Se eu tenho um Tesouro Selic que me paga 7% sem prender meu dinheiro, pois nele eu tenho liquidez diária, por que eu investiria em um Título Prefixado que eu só vou ter rentabilidade garantida daqui a alguns anos?
Assim, o preço atual dos títulos pré vai cair. Isso porque um título pré rendendo 7% deixou de ser atrativo. Por outro lado, o que o Tesouro Direto vai fazer para atrair investidores no Tesouro Prefixado? Ele vai aumentar os rendimentos. Assim, se a Selic chegou a 7%, o Tesouro Pré vai pagar 13%, por exemplo.
Só que você investiu neste título lá atrás, com rentabilidade acordada de 7%. Assim, o valor do título vai cair, de modo que novos investidores vão conseguir essa rentabilidade de 13% e os antigos vão ficar com a rentabilidade acordada.
O valor final do título é sempre mil reais
No vencimento, o título pré sempre vale mil reais. Então na prática, o que acontece quando investimos em um Prefixado é que estamos adquirindo o título com um desconto. Ali em cima eu falei que o Pré 2026 está valendo hoje 671,27. Assim, investindo nele agora, lá em 2026 o Tesouro vai me pagar 1.000 reais, que são os 671,27 mais os juros acordados na hora do investimento.
Agora pena comigo: você contratou uma rentabilidade de 8,83% ao ano, investindo em um título que vale, hoje, 671,27 reais e que lá em 2026 vai te retornar 1.000 reais. Se esta rentabilidade subir para 12%, por exemplo, o valor atual do título vai cair.
Por quê?
Porque lá em 2026 ele vai retornar 1.000 reais ao investidor, de uma forma ou de outra. Entretanto, com uma rentabilidade maior eu preciso de menos dinheiro para chegar aos mil reais lá na frente, concorda? É por isso que quando a taxa de juros aumenta, o valor do título cai.
Eu preciso de 671,27 reais rendendo a 8,83% ao ano para chegar em 2026 com 1.000 reais. Se a taxa sobe para 12%, entretanto, eu preciso de menos dinheiro para chegar aos 1.000 reais em 2026. É por isso que o valor atual do título cai. E é por isso que você vai ver o dinheiro investido em Tesouro Pré variar para cima e para baixo: tudo por causa dessa marcação a mercado.
O que vale é a rentabilidade informada na hora da aplicação
Tesouro Prefixado sempre vai pagar a rentabilidade acordada na hora do investimento. A taxa informada na hora em que você investiu é o que vale.
O resultado prático dessas variações é que:
- no curto prazo o seu dinheiro investido vai variar pra cima e pra baixo. Em certos momentos, você vai ter a impressão de estar perdendo dinheiro ou ganhando mais do que o combinado. Entretanto, basta deixar o investimento lá até o vencimento que você vai receber a rentabilidade informada quando você investiu;
- a rentabilidade do tesouro pré varia constantemente. Você pode aplicar a 8% este mês e, ao aplicar no mês que vem, ele pode estar pagando 8,5%. O inverso também acontece: você pode aplicar a 8% este mês e a 7,5% mês que vem;
- cada fatia de dinheiro aplicada vai render conforme a rentabilidade informada no momento de investimento. Se eu aplico 100 reais agora a 7,5% e 200 reais mês que vem a 8%, os 100 reais vão seguir o primeiro rendimento e os 200 reais vão seguir o segundo rendimento.
Tesouro Prefixado comum e Prefixado com Juros Semestrais: qual a diferença?
Hoje, eu tenho três opções Pré lá no site do Tesouro, que podem ser diferentes quando você estiver lendo este artigo, embora a lógica seja a mesma. São elas:
- Tesouro Prefixado 2024: rende 8,22% ao ano, vencimento em 01/07/2024;
- Prefixado 2026: rende 8,83% ao ano, vencimento em 01/01/2026;
- Prefixado com Juros Semestrais 2031: rende 9,53% ao ano, vencimento em 01/01/2031.
Qual a diferença? No título que paga juros semestrais, você tem uma antecipação do pagamento dos juros. Pensa assim: no Prefixado comum você recebe, na data do vencimento, todo o dinheiro aplicado + os juros. Neste outro, no entanto, a cada seis meses você vai recebendo um pouquinho dos juros.
Por um lado, essa antecipação de juros é danosa para os juros compostos trabalharem melhor: se seu dinheiro fica todo investido e você não fica fazendo retiradas, os juros vão rendendo sobre os juros e o bolo cresce mais. É uma lógica parecida com a do Tesouro IPCA +, que também possui opções com pagamentos semestrais de juros.
Sugestão de leitura: Como funciona o Tesouro IPCA?
Perceba também que o Tesouro com Juros Semestrais possui um rendimento nominal maior, mas um vencimento também mais longo, de modo que seu dinheiro tem que ficar mais tempo “preso” para garantir a rentabilidade.
Qual é melhor?
Depende, sempre depende.
Se você quer receber renda passiva semestral, o Prefixado com Juros Semestrais pode atender você. Caso contrário, o Prefixado comum pode ser uma boa opção. Pense sempre os investimentos de acordo com sua estratégia. O que serve pra outra pessoa não necessariamente vai servir pra você.
Conhecer os instrumentos de investimento disponíveis é a melhor forma de escolher investimentos que funcionem bem para os seus objetivos. Particularmente, procuro evitar os títulos que pagam juros semestrais, porque eles atrapalham a ação dos juros compostos.
Toda vez que o Tesouro me paga juros semestrais eu recebo um dinheiro que poderiam continuar lá no bolo, rendendo. Além disso, em cada recebimento eu tenho que pagar imposto de renda, ao passo que, se o dinheiro continuasse investido, eu só pagaria imposto no final, lá no vencimento.
Assim, em virtude de melhor aproveitamento dos juros compostos e maior eficiência fiscal, dou preferência aos títulos comuns, que não pagam juros semestrais.
Como aplicar?
Para aplicar no Tesouro Prefixado é bem simples. O passo a passo básico é o seguinte:
- abra conta em uma corretora de valores;
- no site ou app da sua corretora, localize a área “Tesouro Direto”;
- veja os títulos disponíveis e escolha aquele de sua preferência;
- aplique o dinheiro que você separou para investir nele e pronto.
A liquidação ocorrerá em D+2. Isso significa que, se você comprar hoje, daqui dois dias o título vai aparecer na custódia da sua corretora de valores.
Os valores tendem a ser meio quebradinhos, porque você consegue aplicar sempre em múltiplos do menor valor. Supondo que o mínimo para aplicação seja 31 reais, você conseguirá aplicar 31, 62, 93, 310 reais e assim por diante. Quem tem TOC para aplicar valores redondos, pode sofrer um pouco.
Taxas e imposto de renda
Aqui vai ser muito parecido com o Tesouro Selic. Sobre o Tesouro Prefixado podem incidir as taxas da Bovespa, o imposto de renda e o IOF, que são as taxas padrão. Poucas corretoras cobram taxas específicas além dessas para investir no Tesouro Direto, de modo que a concorrência vem tornando as taxas cada vez mais atrativas ou zeradas.
Vamos ver cada um das três primeiras.
Taxas da Bovespa
A taxa da Bovespa é de 0,20% do valor do título, sendo cobrada em duas parcelas, a primeira em janeiro e a segunda em julho.
Vamos a um exemplo.
Suponha que eu tenho 10 mil reais aplicados lá no Tesouro Prefixado. De quanto será essa taxa da Bovespa?
10.000 x 0,20% = 20,00
Logo, a taxa Bovespa em cima de 12 mil reais será esta: R$ 20,00. Só que ela é debitada em duas parcelas de R$ 10,00. Assim, acontecerá o seguinte: em janeiro vai ocorrer um débito de R$ 10,00 na conta da minha corretora e em julho mais um débito no mesmo valor. O legal é que esse débito é automático, basta deixar o dinheiro na conta da corretora que tudo é feito sem que você tenha que se preocupar.
Sugestão de leitura: o que é uma corretora de valores?
IOF – Imposto sobre Operações Financeiras
O IOF incide sobre o rendimento também, de acordo com o tempo que o dinheiro fica investido. Se você resgatar antes de trinta dias, haverá um IOF pesado sobre os rendimentos; a partir do trigésimo dia o IOF deixa de existir, então é bem fácil evitar o pagamento dele.
Até porque você não está investindo em Tesouro Prefixado para sacar antes de um mês.
Vamos supor que você colocou um dinheiro no Tesouro Prefixado e, após um dia, tem um rendimento lá de dez reais. Se você pedir o resgate, sabe o que acontece? 96% de IOF em cima do rendimento. Os seus dez reais caem para míseros quarenta centavos de rendimento.
Pesado.
Dói, eu sei. O IOF tem uma alíquota que cai dia a dia: 96% de IOF no 1º dia do investimento, 93% no segundo, 90% no terceiro dia… percebeu? Ela diminui dia a dia de forma que, no trigésimo dia, ela zera. Ou seja, passados pelo menos trinta dias, tchau IOF! Ele se torna zero e você não precisa pagar esse imposto.
A dica aqui é essa: evite resgatar o dinheiro antes de 30 dias.
Imposto de Renda
Desse aqui já não tem como fugir. O imposto de renda incide sobre os rendimentos, ou seja, somente sobre o que você ganhou. Para descobrir o quanto vai ser descontado de imposto de renda, utilizamos a tabela regressiva, utilizada em muitos investimentos de renda fixa.
Na tabela regressiva a ideia básica é: quanto mais tempo o dinheiro ficar investido, menos imposto você paga. Funciona assim:
- até 180 dias: 22,5% de imposto de renda;
- de 181 a 360 dias: 20% de imposto;
- de 361 a 720 dias: 17,5%;
- mais de 720 dias: 15%.
Veja que a ideia é simples: quanto mais tempo o dinheiro fica aplicado, menos imposto você paga. 720 dias equivale mais ou menos a dois anos, ou seja, se você resgata o dinheiro depois de dois anos você paga o mínimo possível de imposto: 15%.
É uma tabela bastante condizente com o estilo de investimento em um título pré. Aqui, normalmente você está olhando para médio prazo, então é bem plausível que você esteja investindo para daqui a dois anos no mínimo.
Considerações finais
Desse modo, você já sabe o básico necessário para considerar se vale a pena investir em Tesouro Prefixado ou não. Tenha sempre em mente que ele é um investimento para médio prazo, pois retirar o dinheiro antes do vencimento pode gerar perdas, às vezes perdas grandes. Por esse motivo, entre os investimentos do Tesouro, ele é o considerado o mais agressivo.
O seu dinheiro vai variar bastante no meio do caminho, para mais ou para menos. Se isso for algo que incomoda, considere se este investimento é pra você ou não. Entretanto, deixando o dinheiro até o vencimento, você vai receber direitinho o que foi acordado lá na hora que você investiu. Não se preocupe.
Ainda, muitas pessoas dizem o Tesouro Pré é um investimento que é feito quando a pessoa acha que a Selic vai cair ou se manter estável. Isso porque, caso a Selic suba, o investimento em Tesouro Pré vai ter se tornado menos vantajoso, já que seu título vai cair de preço e vai haver taxas melhores no mercado.
Quanto a isso, tenha em mente que não podemos prever o futuro. Logo, se investir em Tesouro Pré, esqueça isso, porque o vai e vem da taxa de juros só vai causar stress para você.
“Se ele estiver rendendo muito mais do que o combinado, eu posso vender a qualquer momento, certo?” Sim, você pode efetuar o resgate antecipado e vender ele pelo preço do dia. Só lembre de prestar atenção na faixa de imposto de renda, por exemplo, que cai conforme o tempo passa.
Para consultar os títulos disponíveis, acesse a sua corretora ou o site oficial do Tesouro Direto, neste link.